Olá amigos!
Viemos trazer hoje um texto do padre José Besen, aqui da nossa
Arquidiocese, para nos fazer refletir um pouco... O padre José tem
também um blog: http://pebesen.wordpress.com/, onde vocês podem
encontrar outros textos de sua autoria.
Axé, Paz, e Bem!
Ano da Fé – Crentes e Descrentes, Ateus e Ateus Devotos. Por Pe. José Besen
"Na África negra não há ateus, nem descrentes, nem indiferença
religiosa. Nas grandes culturas da Ásia, a fé se identifica com a
própria existência, não sendo possível vácuos entre a vida e Deus.
Na América latina e no Brasil profundo, entre os simples da terra, não
há ateus, nem ex-crentes, nem indiferentes. Respira-se Deus em cada
situação vital. Eles seguem o pobre peregrino da Galiléia sofrendo a
ação que nós, católicos ditos “conscientes”, movemos para tirá-los da
“ignorância” e introduzi-los em nossa fé iluminada. Julgamos que nosso
modo de crer é também o modo de viver corretamente o Evangelho. Com
freqüência nos deparamos com situações de certo modo risíveis:
explicamos ao pobre como viver em comunidade, como ser solidário e, na
verdade, isso ele já vive, e com imensa generosidade.
Respiramos um forte ar de indiferentismo, uma soberba intelectual que
afirma Deus impedir a ação da inteligência. Fazemos da profissão de fé
atéia uma espécie de religião. Freqüentemente é mais do que isso: é a
redução da vida ao usufruto da vida, sem se deixar interrogar pelas
grandes perguntas inerentes à existência: quem sou, donde vim, para onde
eu vou. Vive-se o chão, não a profundidade.
O indiferentismo de matriz atéia se reveste, hoje, de um
anticristianismo visceral, passando-se a imagem de um cristianismo
odioso, pernicioso, prejudicial à liberdade e ao progresso. Tornou-se
uma profissão pública combater a Igreja católica, constituindo-se até
uma cultura de massa: é moda ser contra a Igreja, identificá-la com um
colossal mercado do falso, do interesse financeiro, colocá-la sob
suspeita. Uma sociedade hedonista não suporta o anúncio de amor, perdão,
respeito à vida, às culturas, pois é uma sociedade que se contenta em
vender facilidades.
No meio disso tudo, um escritor francês, best-seller de publicações
antireligiosas, anuncia uma grande “novidade”: pede que a modernidade
laica sirva-se de símbolos espirituais presentes nas igrejas, das
liturgias marcadas pela harmonia, pois necessitamos de espiritualidade.
Em palavras mais simples: somos contra a religião, mas precisamos de
locais e atos religiosos. Complicado!
Há uma decepção entre os cientificistas, cuja religião é a ciência: Deus
voltou, apesar do anúncio da extinção da religião. Ela está na ordem do
dia, marca e preocupa sociedades tidas como secularizadas, livros
religiosos estão entre os mais lidos. Decepcionam-se os que acreditavam
na solução científica dos problemas humanos e percebem o retorno da
espiritualidade.
Há caminhos diferentes, como o de Fabrice Hadjadaj: (* 1971), ex-ateu,
judeu de nome árabe e de confissão católica. Ele afirma, hoje: “Os ateus
escrevem evangelhos, constroem capelas, pronunciam excomunhões e,
fundamentalistas, procuram destruir os que crêem”. Filósofo e literato,
pensador nihilista, ateu militante francês, passou pela experiência da
cruz que o levou à fé. Sabendo da doença (felizmente benigna) de seu
pai, dirigiu-se à Igreja de São Severino em Paris e se converteu diante
da imagem da Virgem Maria. Alguns meses depois, em 1998, foi batizado na
Abadia de São Pedro de Solésmes.
Em 2010, juntamente com Pierre Gelin, Frabrice fundou os «Domingos de
Caná», cujo objetivo é viver cristãmente e em família o dia do domingo,
consagrando-o à festa, à refeição, ao teatrro, à cultura, ao jogo, à
oração, etc. Viver o domingo. Afirma, feliz e renovado: « Minha
conversão não é algo passado. Tudo o que vem de Deus nos conduz a Deus. A
questão principal é essa: como foi possível que eu não não acreditasse
em Deus?»
Deus nos fala na história
Todo o ataque à Igreja faz parte do plano de Deus e do Senhor para nos
tornar humildes servidores da Palavra e proclamar sempre: “Pecamos,
Senhor. Ajuda-nos a não mais pecar!”.
Há somente duas igrejas: uma que persegue e outra que é perseguida.
A que persegue foi consumida pelo espírito mundano das aparências, da
mancomunação com os poderes do mundo. Sua preocupação é o prestígio, a
uniformidade, o facilitador olhar para trás. É movida por complicados
raciocínios, projetos de gabinete. Não é perseguida porque é sal sem
sabor, não incomoda.
A que é perseguida é a Igreja humilde e servidora, que conserva a
fidelidade a seu Senhor nos momentos difíceis da difamação, perseguição.
É a Igreja da missão que não se preocupa com a segurança e anuncia a
Cruz. É a Igreja de comunidades felizes, pois seu ideal e compromisso é o
sentimento mais puro da vida humana: amar, o amor.
Bernanos, em seu “Diário de um Pároco de aldeia” coloca na boca do velho
vigário de Torcy: “O contrário de um povo cristão é um povo triste, um
povo de velhos” e que “é do sentimento de sua própria impotência que a
criança tira, humildemente, o princípio de sua alegria. Confia em sua
mãe, compreende?”. Esse é o verdadeiro cristão.
E podemos, parafraseando Hadjadaj, perguntar: “Como é possível não crer em Deus?”."
Pe. José Artulino Besen*
*O Autor, Pe. José Artulino Besen é historiador eclesiástico, professor
de História da Igreja no Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC
desde 1975 e pároco na paróquia Nossa Senhora Aparecida, Procasa, São
José(SC).
Fonte: Site da Arquidiocese de Florianópolis
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